4 de novembro de 2008

Invasão da Kika

Prezados Mami e Papi do Rafael;
- A invasão da Kika -
lamento mas 'tive' de invadir esta casa porque num me segurei e porque sou praticamente vossa personal-hacker. Taquei um post novo, relativo a este, que pra mim foi imensa homenagem. Agradecida, segue o que segue abaixo. Vocês podem apagar e colocar em outro lugar, caso queiram.
Amo vcs - K.

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Queridíssimo Rafael – ou: Aquele que já está aqui, mas ainda não chegou;

Pára tudo e chama a NASA! Por acaso acabei de ver que tua mãe me publicou no blog e tive aquele ataque costumeiro de “ter” de responder. Você não me conhece muito bem ainda, mas tenho muitas manias, entre elas a de responder a quem escreve – desde que mereça. Acho que você merece. Então lá vai.

É verdade que to fazendo uma coisa pra você. Na verdade algumas coisinhas – porque você ainda não sabe, mas também sou compulsiva-obsessiva. Muito prazer, Rafael, eu sou a tia Kika. Nada pode vir sozinho, meu anjo, tudo deve no mínimo ter um par. Então se escolho uma árvore, acabo levando pelo menos dez, só pra elas terem com quem conversar e ter filhos; se ganho uma cachorra, espero alucinadamente a hora dela ter filhotes e acabo ficando com nove num apartamento em que mal cabiam duas xícaras; se for pra fazer o jardim da tua casa, mando bala duma vez na garagem, na calçada, no quintal... É uma doideira sem fim essa coisa da compulsão-obsessão, meu filho. Você vai ver, ahhh vai.

Daí que quando eu soube que alguém tão importante viria por aí, fiquei pensando no famoso presente de boas-vindas, que de maneira alguma poderia ser comprado por aí, não poderia ser industrial e nem mal-feito, que isso não tem graça pra mim. Outro fato que você também não sabe é que gosto demais de fazer coisas, principalmente as que não existem ainda. Gosto de tudo que ainda não existe, Rafael. Gosto de fazer as coisas existirem e gosto que sejam muito bem-feitas. Mas também gosto de coisas que já existiram, principalmente há muito, muito tempo; principalmente as que foram feitas com qualidade, paciência de chinês pagando uma perpétua no deserto... Ou seja, eu gosto de história – em todos os sentidos desta palavra tão boa. Portanto eu pensei em te fazer alguma coisa que existe há tempos, que é feita até hoje, que está até na moda, mas que agora não é mais feita como antigamente – porque dá um trabalho do cacete, entendeu? Eu que o diga, Rafael do céu! To ficando cega e sem mão. Mas ta ficando lindinho, fica tranqüilo.

E a coisa da história também está no que podemos chamar de “motivos” da obra (to até rindo aqui, imaginando a cara da tua mãe pensando nisto). Na verdade, vou dizer o que é: to te fazendo várias histórias numa só – ou em muitas, se tudo der certo. Na verdade é tudo uma coisa só, sacou agora? A diferença é o meio. Você vai aprender nesta vida, querido Rafael, que os meios para se chegar a um objetivo são muitos. Eu escolhi um que vai poder te contar histórias, principalmente porque sei que tua mãe e pai te farão dormir ao som delas, por exemplo. O problema é que a pessoa que não sabe nada de histórias vai olhar a coisa e vai dizer: “Caracoles! Difícil saber a lógica dessa história, Kika”. E eu vou rir demais, porque apesar de você ainda não saber disso, eu também sou completamente louca. Teu presente é em estilo neo-naïf-orgânico-colorista-capira-com-traços-setecentistas-tecnologicamente-atuais, percebeu agora? Fácil. E se quiser mais uma dica, se fosse uma música, neste momento se pareceria com esta maravilha – que vou (desafinadamente) cantar pra você dormir depois das tantas, muitas histórias:

Azulão


Ou escute (e baixe) por aqui: Azulão.mp3

Pois é, Rafael. Esta tua tia maluca de pedra ta fazendo uma coisa bem comum. Tua mãe me perguntou assim: ‘mas ele vai poder pegar... porque uma coisa assim tão complicada...’ Vai poder, sim, meu filho. Não só vai pegar como vai fazer o que bem entender, até comer, se for do teu agrado. A gente nunca sabe o que uma pessoa vai gostar de fazer, até que a veja fazendo com o maior prazer, né mesmo? Então.

Na verdade, meu pequeno, trata-se de algo feito, desfeito e refeito diversas vezes para que fique pronto. As cores, naquela quantidade imensa, fazem parte da história e o material de que são feitas vieram de vários lugares do mundo. Mas duas delas eu criei aqui em casa mesmo, porque não achei por aí como eu queria. Acho que você deve estar desconfiando que, além de tudo que ficou sabendo até agora sobre mim, eu amo as cores. Quase nada é melhor que cor, Rafael. São fundamentais. Então eu misturei uns trecos aqui e fiz um amarelão-van-gogh só pra você. Vixe-maria que você vai ter de conhecer este cara, o tal Van Gogh, que eu amo também. Vai ver porque era doido feito eu. Deixa você chegar que te mostro tudo dele, tenha calma.

E chega de falar das materialidades desse tal presente. Só espero ter (in)sanidade e tempo suficientes para que tudo fique pronto à tua chegada. O mais importante é o que penso enquanto faço a coisa toda. Pode ter certeza que em cada milímetro segue um bom desejo para você. É um trabalho de humildade e boas energias, meu anjo. Fico desejando que você seja feliz, que traga mais alegrias para este planeta cheio de maravilhas e que precisa cada vez mais delas. Que seja um amante radical das árvores e das flores, que são os olhos da Natureza – como já diziam os cientistas – e que as espalhe pelo mundo infinitamente. Que seja um protetor dos bichos, que são tudo de bom e do melhor – apesar de eu odiar mariposas e baratas, se você quiser amá-las eu dou a maior força. Que você tenha inteligência brilhante e conheça o resultado antes mesmo do final da pergunta e que isso te ajude a encurtar os caminhos mais difíceis que a vida sempre teima em nos oferecer. Que você tenha sensibilidade para escolher as opções mais acertadas e que teus amigos sejam todos do bem, assim como você. Que tua saúde seja mais forte que titânio; que tua fome seja de conhecimento. Que o espaço não seja limite pro teu espírito. Que o sol seja teu companheiro e a lua teu acalanto. Te desejo, pequeno Rafael, que a vida te seja longa e quaisquer fardos te sejam leves. Tudo isto e mais um tanto eu te desejo. O resto é o resto.
E se você teimar de ser lindo, aí não terá pra ninguém.

Daí quando chegar, vou fazer feito no meu sonho: trocentos bilhões de beijinhos (você tem um cheirinho maravilhoso, pelamornideusi!) e lá pelas tantas te chamo – vamos nadar, Rafael, vamos? E você se joga pra mim com os bracinhos abertos e gargalhando desesperadamente. Êêê, lá em casa! Cresce forte aí, bebê, que to aqui te aguardando.
Love, love love...
Tia K.

Um comentário:

Anônimo disse...

Comentário nada usual, da mãe do Rafael: Enquanto escrevo aqui, agora, escuto repetidamente a música dedicada pela Tia Kika, que é de uma sensibilidade... ímpar! Uma delícia de ouvir. Eu amei tudo, mas confesso que é impossível compreender a complexidade da materialidade do presente. Quanto ao que está por trás dele - a dedicação, o carinho, as boas energias, o pensamento constante no bebê - não tem preço! E ainda tem os votos de felicidades que a gente recebeu na mensagem: "saúde forte como um titânio" (que maravilha, eu nem sabia que esse metal fosse tão forte quanto ela deseja que a sua saúde seja!); "fome de conhecimento" (é o que a gente leva da vida, né?!)... Uma poesia! Obrigada Kika querida. A gente amou!