29 de maio de 2011

“Você é linda, linda, linda…tanto!”


Dormiu assim, fazendo declaração de amor. Que delícia! Te fazer dormir como antigamente, no trabalho anterior, é tão maravilhoso… eu amo! Morro de saudade e, nos fins de semana de folga, é o meu grande prazer. Tomei a iniciativa de escrever porque agora não paro mesmo, para escrever nunca… e o tempo vai passando, as histórias vão rolando e eu, perdendo a linha do tempo… Mas vamos lá. Há algum tempo tenho querido fazer um registro para nós mesmos, eu e seu pai, principalmente. Sobre o seu progresso. Sobre o nosso progresso!

O INÍCIO

Tudo começou assim: fomos chamados na escolinha, no fim de abril, para saber sobre o seu comportamento e a quantidade de ocorrências de mordida. Do início do ano até ali, tinham sido nove. “Fora as que a escola tinha conseguido evitar!”, nas palavras da coordenadora. Eu já sabia que o bicho tava pegando, porque você me contava: “Mãe, mordi fulana.” Todo dia era uma vítima e eu, vítima diária, desesperada. Sem saber o que fazer. E pensando: “Meu Deus do céu, onde foi que eu errei?”. De tanta angústia, seu pai voltou com um papelzinho com o nome de uma psicanalista, especializada em criança. Ai, que alívio foi aquilo, gente. Passei o feriado da Semana Santa, junto com vocês numa pousada linda de Monte Verde, torcendo para chegar segunda-feira e ligar para a bendita. Dito e feito. Marcamos naquela semana mesmo. Pra resumir, já descobrimos de cara que você tinha de perder PODER. Saímos da sessão e fomos almoçar juntos e a minha cabeça pensando a trezendo milhões de megabites (nem sei se isso existe) por segundo! A descoberta de onde tínhamos que começar foi um alívio. Mas de uma semana para a outra, não foi fácil colocar em prática. Tivemos muitas desavenças. A coordenadora já havia sinalizado, na escola, que você tinha que perder. Mordeu? Perdeu. Vai embora da festa, da casa de quem for, perde um brinquedo, um presente… alguma coisa. Mas seu pai discordava profundamente. A segunda sessão foi decisiva. Eu saí de lá angustiada, mas diferente. De lá até ontem, praticamente não dei um grito sequer. Deixei a minha histeria de lado. E seu pai foi deixando de ser só bacana. Passou a me apoiar nas decisões de tirar poder. Como? Aceitando que eu tomasse o seu skate, ou qualquer outro objeto importante para você, mostrando que ERROU, PERDEU! Isso também ajudou na minha transformação e, quase que milagrosamente, você mudou. Tem algo mais, importantíssimo. Para me proteger, o meu marido apareceu na relação de nós três. Agora, se você me ataca, eu chamo o meu marido. O engraçado é que, no primeiro dia em que eu disse que ia chamar o meu marido, você perguntou: “Quem é o seu marido?” Gente do céu, foi demais!!! Pá, pum! Da análise para a prática. E por que a importância do meu marido? Porque ele me protege e é muito maior do que você! Ou seja, é você perdendo poder. Pra que dizer tudo isso? Para deixar registrado que, foi duro, mas parece, agora, simples assim. Quase 20 dias depois, fomos chamados na escola. Você já vinha me contando, havia duas semanas, que não tinha mordido ninguém. Eu, ao ligar do trabalho, deixei de reproduzir a forma da vovó Paula, com o tio Pedro: “Foi harmonia ou confusão?” Todo dia era confusão e eu me arrependia de perguntar. Aí passei a dizer: “E aí, como foi na escolinha, hoje, filho?” Cruzando os dedos, claro. E você começou a responder, diariamente: “Mãe, hoje eu não mordi ninguém!” Eu vibrava, alias, vibro! Dou parabéns, falo que a professora deve ter ficado muito feliz, falo que amo e mais milhões de elogios. E tenho certeza que me transformei na mãe mais feliz do mundo!, de novo. Rs.

A TRANSFORMAÇÃO

A coordenadora quis nos ouvir. Resumimos o nosso aprendizado, as nossas descobertas, a nossa mudança. E ela disse: “Criança responde muito rapidamente às mudanças. O comportamento do Rafael aqui é outro!” Que benção! Depois, disse que os colegas agora estavam tendo a oportunidade de conhecer o outro Rafael: engraçado, conversador, que gosta de contar histórias. As crianças tinham medo. Valentina dava ré quando você passava por perto. E mesmo quando não tinha a intenção de se aproximar dela, ela dizia: “Rafael, você não vai me bater não, né?!” Ai, meu coração ficou partido quando ouvi. Parece que revivi a angústia do mês-problema. Eu já estava até com vergonha das outras mães – que sabiam da sua fama, claro – e pensei até em te tirar para poupar os outros. Mas não faria isso nunca, porque sabia que isso seria pior para você. A coordenadora até disse que já teve caso assim. E eu fiquei pensando: “Coitado da criança filha dos pais que tomaram a decisão!” Bom, ao descrever o seu progresso, o que nos encheu de orgulho, a coordenadora disse que você tinha tentado morder, uma única vez, depois da nossa mudança, mas que você tinha ficado extremamente frustrado na situação. Antes, não podia nem ficar contrariado. Queria dominar tudo, decidir tudo, se impor. Na base da mordida. Ex.: brincadeira. Já tinha passado a sua vez e você dizia: “É a minha vez!”A professora: “Não é… você já foi. Agora é a vez dela!” Você ia lá e mordia a coleguinha. Não sabia ser contrariado. Queria mandar em tudo. Nunca tinha perdido nada na vidinha. Como disse a psicanalista: “Não perdeu o peito (eu que deixei), não perdeu a babá (quando trocamos recentemente por causa de inúmeros problemas que estavam refletindo bastante no seu comportamento e te tornando mais agressivo) – no dia em que ela foi embora você ganhou o presente dos seus sonhos, o skate; nunca perdeu nada, né?!”
Ouvir isso foi uma mensagem e tanto para mim. Graças a Deus você não perdeu nada importante – e que continue assim – mas perder poder, estava mesmo precisando. Isso fez de mim uma mãe ainda mais falante. Antes, não queria por a blusa, fazia birra e ouvia, na força: “Vai por porque tá frio!”, ou algo do tipo. Agora é assim: “Vai por porque tá frio, eu sou a sua mãe, eu sei o que é melhor para você, não tem nem que discutir! Tem que por!” e se vierem os trezendo porquês, respondo todos… e a blusa entra, muito mais facilmente. Sem escândalos como antes. Eu sou a mãe, eu estou no poder.
Bom, ainda na escola, no fim da reunião, a coordenadora disse: “Vocês estão de parabéns. Eu nunca tive um caso em que os pais buscassem a solução tão rapidamente. Há casos aqui em que a criança está no jardim 1 – com 5 anos, mordendo!” Eu e seu pai ficamos felizes pelo reconhecimento mas, principalmente, pelo resultado. Até na análise foi assim. Eu cheguei lá achando que a gente ia passar uma vida para tentar resolver as nossas diferenças. E, na terceira sessão, de ANÁLISE - não é aconselhamento, reforço – a psicanalista disse: “Acho que a gente encontrou um caminho aqui, né?! Foi muito rápido até… e isso é muito bonito!”. Fiquei orgulhosa de mim e do seu pai, filho. Casamento não é coisa fácil, mas é muito bacana quando a gente consegue se encontrar no que antes parecia inegociável. A gente saiu do ângulo de 90 graus e começou a andar paralelo. Isso é parte da sua história. É herança bacana de negociação, de tolerância, de força de vontade, de persistência e coragem. Nós tivemos coragem, muita coragem, para fazer de nós pais melhores, e, de você, um filho melhor e um menino melhor. Um aluno melhor, um coleguinha bacana. Estamos na luta, junto com você, porque você há de ser um cara bacana. Um amigo do bem, um homem corajoso e batalhador, mas que respeita os outros, um Fefel admirável! Você é lindo, lindo, lindo! Tanto!