10 de novembro de 2008

Reflexões da vovó para a filha


Uma foto lá pelo terceiro mês


Confesso que acho esquisito esta vida virtual, porque agora todo mundo tem acesso à tudo que antes dela era assunto privado. A vida passou a ser compartilhada de maneira geral e eu ainda não sei avaliar os efeitos disso...
Digo aqui para todo mundo ler o que consigo, pois a verdade é sempre dita pela metade. Eu descobri isso enquanto advogava arrogantemente poder dizê-la toda.

Admito não ser possível dizer o que sinto a respeito da espera em me tornar uma avó.

Acho que a gente nunca vive as coisas da mesma forma que as escreve e mesmo quando já se experimentou coisas parecidas, a cada vez que se vive é sempre uma coisa nova. As minhas tardes de sexta feira, logo apos o termino das aulas do doutorado, quando você (Pri) me espera de carro na frente da PUC são de interminável prazer. Desde que voce ficou grávida que vou à SP só para vê-la.
Quando entro no ônibus, fico revivendo nossa tarde e o carinho que rola entre nós e não posso imaginar uma "mãe e filha" que sejam diferentes disto que vivemos, pois elas não sabem o que perdem...
A sua imagem grávida é algo indescritível pois vejo nela meu próprio ser na época em que a esperava. Eu te tão forte que deixava transparecer me sentia insegura porque não tinha como saber o que seria de minha vida depois de me tornar uma mãe.

Vê-la no primeiro momento de sua vinda ao mundo, ainda na mesa de parto, com os olhinhos que não me enxergavam ainda, mas eram de um puro azul celeste, me fizeram sentir uma emoção que nunca mais foi possível sentir nada igual!
Este momento é tão maravilhoso que não pode ser captado por nenhuma câmara, na medida que o que escapa à imagem é mesmo impossível de cair na linguagem...
Espero que sua experiência ao dar a luz também a marque profundamente como a sua filiação me marcou e espero que você tenha a benção de um dia também ter uma filha, pois só depois que tive um filho-homem pude ver o quanto as mulheres são diferentes e como elas são dignas no que se referem ao compromisso com a vida. As mulheres nunca verão o mundo como um homem por mais que lutem nele como um!

Se algumas não experimentam o que eu digo talvez seja porque não se tornaram mulher, já que ser homem ou mulher não é algo dado pela anatomia.
Como dizer da possibilidade dada à uma mulher que tendo o desejo por um filho possa tê-lo e sentir uma vida sendo criada dentro de si? Essa é uma experiência só da mulher e, embora não goste muito de ter nascido nessa condição, pois o mundo infelizmente é masculino, orgulho-me de ter encontrado minha mulher. É claro que isso só foi possível com muita análise e seguindo o desafio de ter que lhe educar.

Minha responsabilidade como mãe ainda está em curso por causa da educação de seu irmão, mas eu sei que também ele me proporcionará grande orgulho por ter sido a sua mãe, tal como hoje me orgulho da pessoa que você se tornou.
Parabéns minha filha, mas você não sabe o que te espera. Entre a dor e a delícia de ser mãe e mulher deixo aqui o meu compromisso de ajuda-lá onde puder, só para testemunhar o que vivi com sua avó Natalícia. Eu aprendi a doçura e a generosidade com ela. A pessoa que me trouxe ao mundo é a referência de amor que eu tenho e por isso sinto saudades dela e ninguém pode imaginar o quanto!
Tenho que confessar que nunca precisei de estimulo para viver. Nunca tive medo do trabalho e isso ainda é sem descanso!!! Nunca tive medo de desafios e nem da morte. Mas agora, vivo em função de ver o rosto do Rafael e esperar que ele grite Oh! vovó!
Um beijo carinhoso em você, a minha eterna Pretinha.
Mamãe
(vovó Paula)

Nenhum comentário: