
Há mais de uma semana mamãe gostaria de ter deixado registrado aqui, para a posteridade, o tanto que amoooouuuu a ajuda da sua vó Nair. Demorou, mas chegou a hora de prestar o agradecimento pela ajuda ímpar de alguém que é, para a mamãe, uma sogra de ouro!
"A gente acabou de encontrar neste mês mais uma pepita", ela dizia para você. Te pegava no colo, te ninava, vigiava o seu soninho de manhã e à tarde para a mamãe dormir um pouquinho, não media esforços para cuidar de você. Emagreceu quatro quilos, se é que a balança daqui não tem diferença com a da "farmácia das moças", lá de Fartura. No fim da terceira semana - é, ela ficou conosco 21 dias! - me confessou que teve dor na batata da perna nos primeiros dias. De tanto subir escada! Era um sobe-e-desce danado. A sua chegada fez a mamãe conhecer não só o lado avó, mas também uma sogra que não conhecia. Os encontros da família nos fins de ano ou em feriados são sempre bem gostosos, mas é tanta gente que nunca deu tempo de conhecê-la como agora. Desde a sexta-feira depois do Carnaval, passávamos o dia inteiro juntas, cuidando de você. Ela inventou algumas coisas também. Até hoje ainda aproveito a idéia do "banho de caneca", antes do seu banhozinho. Foi uma forma que a vó Nair encontrou para limpar o seu cocô mais facilmente antes de te colocar na banheira. Pena que a gente não fez uma foto para registrar... Ultimamente, confesso que também tenho feito o "varalzinho". rs. É, quando uma roupinha sua que acabou de ser tirada da gaveta molha um pouquinho, mas não suja, ela colocava no trocador para secar. Depois aperfeiçoei e comecei a usar um espaço na cama auxiliar. Segundo a sua vó, ficou igual à lojinha que a Kalu fazia no sofá quando era criança. Das peregrinações e expressões que surgiam nos dias de cólica - ou que achávamos que era cólica - a mamãe já falou por aqui. Mas tinha uma coisa que ela sempre dizia e a mamãe não quer esquecer: às vezes, quando você estava mamando e fazia um baita cocô, daqueles de fazer barulho (hahha), a vovó dizia: "Olha, tá azedo... então era dor de barriga. Quanto mais azedo, mais dor de barriga dá!". Mais: quando você estava naquele sofrimento dos inícios de noite, por causa da barriguinha, ela dizia: "Só quem tem sabe o que é isso!", numa demonstração verdadeira de compreensão. Era muito bonitinho. Ah, uma vez, quando estávamos mexendo em você dormindo, no desespero de não te acordar, ela disse: "é igual àqueles copos de cristal!"
Otimista
Foi a vó Paula que me fez prestar atenção nisso. Sua vó Nair é mesmo otimista. Todas as noites ela dizia: "talvez hoje não tenha não", sobre o seu mal estar. Vira e mexe falava: "Isso passa logo... daqui a pouco ele está com um ano!". Agora que já encontramos a receita do sucesso, pelo menos por enquanto, mamãe nem torce para o tempo passar rápido mais, já que está tão gostoso assim.
"Cada um no seu quadrado"
Ela é mais moderna do que eu podia imaginar e tem expressões atualíssimas. Discreta que só ela mesmo, não dava opinião sobre a nossa vida. Aliás, até quando ela era provocada a falar ou fazer alguma coisa, ficava na dela. Mamãe não acreditou! Seu pai deu a entender lá pela segunda semana que ela não saberia se ficaria mais tempo, porque não queria ser invasiva. Pois quando ela foi embora, mamãe ainda gostaria que tivesse ficado mais um tempão por aqui...a presença dela foi uma delícia. Para você ela fazia de tudo também. Tinha a "cadeirinha" - posição que em que te segurava nos braços deixando você inclinado;

Nesses 21 dias, até a Rose, nossa empregada, teve a vida melhor. Sua vó Nair só se metia a trabalhar. Ajudava a cozinhar e ajeitava as louças para ela. A mesa nunca foi tão colorida - tinha todo tipo de vegetal, um mais gostoso que o outro. Desde que ela se foi já não é mais assim.
Além disso, para atender os desejos do seu pai, que também teve uma oportunidade única de curtir a mãe durante tanto tempo depois de anos, ela fez várias receitas gostosas na cozinha. Pão de casa foram umas três ou quatro fornadas. Bolo de fubá duas vezes. Bolo de banana mais uma e um pudim de leite condensado de despedida. Um néctar dos deuses, de tão bom.
A despedida
Eu disse para ela que, ao chegar em casa ela diria: "Viajar é bom, mas voltar para casa é melhor ainda!". Ela se dedicou por inteiro, mas mamãe já sentia que ela precisava voltar. Descobri que ela tem uma preocupação enorme com o seu vó Agripino. Além disso, estando lá ela faz companhia para ele - dá saudade também, né?! Afinal, eles estão juntos há 50 anos! - e cuida da medicação que ele precisa. No mais, a nossa casa é sempre a nossa casa. Então, ela devia estar louca para voltar mesmo, mas não demonstrava. E teve a preocupação de dizer que só ia embora quando eu arranjasse alguém para me ajudar com você, Rafael. Quando a mamãe encontrou, ela comprou a passagem. Mas avisou: "Qualquer coisa é só ligar que a vó volta, quando for!" A gente espera não precisar. Queremos que ela volte sim, mas para matar a saudade, que já é grande. Seu pai e eu sentimos bastante. Mamãe agradeceu durante a estadia e na despedida, mas talvez nunca seja capaz de demonstrar a gratidão pelo carinho que ela dedicou não só a você, o neto, e ao seu pai, o filho... mas também à mim, a nora. Sua vó vale ouro!

Vó Nair, papai e a irmã, Fê